Calor aumentou exigências e sentimento de superação

De Mirandela a Tábua através de paisagem que é Património da Humanidade

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Muita condução, subidas de respeito e descidas de arrepiar. A primeira etapa do 7.º Portugal de Lés-a-Lés Off-Road deixou fortes marcas de cansaço, mas, em boa parte, esbatidas pelo prazer da superação. E por momentos de puro deleite com paisagens de imponência arrebatadora a gerar sentidos sorrisos. De Mirandela a Tábua foram 277 quilómetros de pisos variados, com o calor a dificultar a tarefa aos participantes e a pedir água. Muita água!

Um dia que ajudou a perceber (ou a recordar) porque é que a paisagem do Alto Douro Vinhateiro merece ser considerada Património da Humanidade e entender o apego de Miguel Torga à sua terra, ao contemplar a sublime vista do Vale do Tua oferecida desde o Miradouro do Ujo. Rio Tua que acompanhou a caravana ao longo de boa parte da tirada, com uma neblina matinal que contribuiu para o início fresco e sem pó. Um despertar mágico para os aventureiros, através de caminhos estreitos, entre campos agrícolas e hortas, que logo deram lugar a olival de cultura intensiva e, pouco depois, aos vinhedos que haveriam de marcar boa parte do dia.

Serpenteando por entre vinhedos do Douro foi possível perceber, ali mesmo no terreno, as enormes dificuldades vividas pelos homens e mulheres que moldaram a paisagem desde há centenas de anos. Socalcos de sofrimento também para os menos expeditos nestas coisas de conduzir motos grandes em pisos de terra, num esforço pago em suor e… vistas inesquecíveis. Mas as dificuldades estavam longe de ter terminado, com alguns trilhos bem empinados rumo à estação de comboios do Tua, onde o Oásis Honda matou a sede que começava a apertar. E, com fruta, café e barras energéticas, reforçou alento para algumas descidas bem íngremes, antes de atravessar o Douro na Barragem da Valeira.

Ponto que marcou o primeiro terço da jornada, antes de rumar às paisagens beirãs, gradualmente mais inóspitas, marcadas pelo granito, pela invasão do eucalipto e por algumas chagas abertas pelos incêndios que teimam em não sarar. Pisos ora rolantes, ora mais enduristas, bem entrecortados por indispensáveis ligações em estrada que serviam também para ajudar a descansar um pouco. Percurso que mereceu muitos elogios por parte dos participantes, como foi o caso de Carlos Alonso, espanhol de Salamanca, que garante “estar a ser a mais bonita e mais interessante das quatro edições” em que marcou presença com o grupo de bem audíveis amigos.

Pelo mesmo diapasão afinou Paulo Marques, com “as dificuldades a fazerem lembrar alguns troços de enduro, enquanto, logo a seguir, surgiam troços típicos de um raide”. Mas o pluricampeão nacional de modalidades off-road há muito que ‘arrumou as botas’ e agora é participante assíduo no Portugal e Lés-a-Lés Off-Road “para descobrir paisagens que é impossível conhecer de outra forma e para passar três dias com os amigos a passear de moto, juntando o melhor de três mundos!”

Ideias trocadas no Oásis montado em Trancoso, com o castelo como pano de fundo, e um delicioso caldo verde como aperitivo para uma refeição variada, capaz de agradar a ‘gregos e troianos’­­­. Da mesma forma que agradou a portugueses, espanhóis, franceses, italianos, alemães, belgas, suíços, ingleses, brasileiros e tantos outros. Que, de estomago composto, abalaram que ainda havia mais de uma centena de quilómetros para cumprir até Tábua.

Com a paisagem a variar entre a rispidez granítica, os intermináveis eucaliptais que secam a terra e criam tanto pó, e zonas fluviais, de maior frescura graças às árvores de espécies autóctones, foi tempo de mais um esforço para cumprir uma etapa que, já se antevia, foi fisicamente exigente. Talvez por isso, na chegada ao Multiusos de Tábua, os terapeutas que acompanham o evento da Federação de Motociclismo de Portugal não tivessem mãos a medir. E enquanto a Inês, o Edgar, o Miguel, a Adriana e o Rui minimizavam os efeitos de algumas mazelas, os elementos do motoclube MK Máquinas responsáveis por uma bem-disposta receção, ajudaram a plantar dois cedros do Buçaco, mesmo em frente ao pavilhão. Para plantar mais tarde, quando a chuva amaciar a terra e as raízes tiverem mais alimento para vingar, ficaram vários salgueiros, freixos, amieiros, pinheiros-mansos, zelhas, lódãos, pilriteiros, tramazeiras e loureiros, árvores de espécies locais oferecidas no âmbito da Campanha de Sensibilização Reflorestar Portugal de Lés-a-Lés. Iniciativa da FMP que voltará a marcar presença em Arronches, onde termina a 2.ª etapa do 7.º Portugal de Lés-a-Lés Off-Road, após 268 quilómetros de sobe-e-desce, em montanha-russa que terá ponto alto na travessia da Serra do Açor.

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