As feições de traços vincados pelo pó, os sorrisos sulcados pelo esforço, foram nota dominante entre todos os cumpriram a 1ª edição do Portugal de Lés-a-Lés Off Road. Aposta ganha pela Federação de Motociclismo de Portugal que deixou mais de centena e meia de motociclistas entre a alegria de terminar a maratona de descoberta e o cansaço de ter vivido uma aventura ímpar e bem exigente, na ligação entre dois extremos do mapa continental, através de caminhos de terra batida e muita pedra, com travessias a vau de alguns rios e, sobretudo, com paisagens de cortar a respiração.
A promessa era tentadora! E foi cumprida em toda a extensão, proporcionando doses ímpares de aventura e memórias inesquecíveis na mais radical e aliciante travessia de Portugal Continental. Por fora de estrada, de Bragança a Lagos, este foi Lés-a-Lés genuíno, com mais de 900 quilómetros de descoberta e prazer de condução, de desafio e superação por caminhos de terra, nas serranias de norte a sul, com passagem pela planura alentejana, na busca das mais incríveis paisagens. Aventura organizada pela Federação de Motociclismo de Portugal com ‘Balanço extremamente positivo, havendo, naturalmente, que evoluir em alguns pormenores, para refinar uma fórmula que provou ser muito positiva.’ como sublinhou António Manuel Francisco, presidente da Comissão de Mototurismo. Iniciativa ímpar no panorama motociclístico internacional que contou com forte contingente de participantes espanhóis, juntamente com alguns franceses, ingleses, belgas e holandeses, e que teve padrinhos de luxo. Pilotos de renome do todo-o-terreno lusitano que juntaram dezenas de títulos nacionais de Motocross, Supercross, Enduro, TT e Supermotard e enorme animação. Paulo Marques, Mário Patrão, António Oliveira, Miguel Farrajota, Pedro Bianchi Prata, João Rosa, António Lopes, João Lopes, Bernardo Villar, Pedro Belchior e Rodrigo Amaral foram homenageados pela FMP pelo contributo dado ao desporto motociclístico em Portugal e agradeceram com enorme apoio à caravana. Pilotos que, alguns deles, não se encontravam há bastante tempo, recordando episódios divertidos na presença de adeptos incondicionais, dos que seguiram as suas façanhas desportivas ao longo dos anos, e que mostraram ser possuidores de ritmos bastante rápidos. E se uns, como António Lopes, Miguel Farrajota ou Rodrigo Amaral, aproveitaram para ‘matar saudades de antigos rivais e grandes amigos num ambiente realmente único.’ outros, como Mário Patrão ou Bianchi Prata, tiraram ‘Partido das condições ímpares de um evento de extensão assinalável que oferecia a possibilidade de rolar com road-book para treinar a navegação.’ que tão importante será já no início de 2106, na próxima edição do Dakar.
Maratona mototurística com arranque madrugador do castelo de Bragança para uma primeira etapa marcada por bastante pó em caminhos onde os castanheiros e carvalhos marcaram a paisagem e onde a travessia a vau do Rio Sabor foi momento de enorme adrenalina. Pedras muito escorregadias e um caudal bastante forte levantaram dificuldades acrescidas, as maiores de todo o evento, obrigaram a empenho acrescido e grande solidariedade entre todos, nunca ficando, em momento algum, qualquer participante para trás. E mesmo as duas Vespa vindas da Galiza só ficaram no caminho devido a problemas técnicos sem solução, completando o Lés-a-Lés em turismo… automóvel, com as motos a bordo. Espírito solidário transversal a toda a caravana, desde os mais experientes pilotos profissionais aos menos rodados dos amadores em dia que atravessou as serras de Bornes, de Mogadouro, do Reboredo, da Marofa e da Malcata até chegada festejada a Termas de Monfortinho, depois de 329 quilómetros.
Dia cansativo, muito exigente em termos de condução, com traçado substancialmente diferente da segunda tirada, até Moura, com 359 quilómetros de extensão pontuados por diversas ligações por estrada, algumas algo enfadonhas. Travessias asfaltadas ditadas pela necessidade de contornar algumas propriedades já em solo alentejano, nomeadamente no zona do Alqueva, com cancelas fechadas a cadeado. Altura da descoberta, para muitos dos participantes, da simpatia de muitos proprietários que deixam atravessar os seus terrenos a troco de um simples gesto: as cancelas devem ser deixadas como foram encontradas. E aí todos paravam para abrir os portões e, logo de seguida, voltar a fechá-los, ritual que nenhum mototurista descurou na tirada com chegada a Moura. Mesmo aqueles que foram surpreendidos com as manadas de vacas que encontraram em liberdade em algumas herdades, obrigando a retirada estratégica.
Terreno bem diferente voltaria a ser encontrado na serra algarvia, com trilhos bastante mais trabalhosos ao longo dos 270 quilómetros cumpridos até Lagos. E onde não faltaram subidas e descidas bastante complicadas, algumas em pedra solta, a exigir destreza, muita atenção e até alguma coragem por parte dos menos experientes nestas coisas do todo-o-terreno. Afinal, esta como outras dificuldades, revelaram-se excelentes capítulos de uma aprendizagem progressiva para todos os que aceitaram o desafio da Comissão de Mototurismo da FMP, reforçando o prazer de concluir esta primeira travessia lusitana em off-road.